Por Luciano de Paula Lourenço
Texto Base: Atos 10:44-48; 11:15-18
“E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas“(Atos 10:34)
INTRODUÇÃO
Na aula anterior estudamos sobre a “Conversão de Saulo”, e nesta aula daremos ênfase a conversão de Cornélio. As diferenças entre esses dois homens eram consideráveis. Quanto à raça, Saulo era judeu, Cornélio era gentio; quanto à cultura, Saulo era um erudito, Cornélio um soldado; quanto à religião, Saulo era um fanático, Cornélio um simpatizante. Mas ambos foram convertidos através da graciosa iniciativa de Deus; ambos receberam o perdão de pecados e a dádiva do Espírito Santo; e ambos foram batizados, sendo recebidos na família cristã em igualdade de condições. Esse fato é um testemunho do poder e da imparcialidade do evangelho de Cristo, que ainda é o “poder de Deus para salvação de todo o que crê; primeiro do judeu, e também do grego”(Rm 1:16).[1]
I. QUEM SÃO OS GENTIOS
Denominam-se “gentios” todos os demais povos que não são judeus(Is 49:6; Rm 2:14; 3:29). Para os judeus, seu significado é o de “estrangeiro”.Após a destruição da humanidade pelo dilúvio, formou-se uma única nação por parte dos descendentes de Noé, mas esta comunidade logo se revoltou contra Deus, que dividiu esta nação única através da confusão das línguas (cfr.Gn11:1-9), findando-se, assim, a chamada dispensação do governo humano.Em virtude deste juízo, Deus resolve formar um povo, a partir de Abraão, para trazer a salvação à humanidade (Gn 12:1-3). Perceba-se que a formação deste povo não significa, em absoluto, predileção ou acepção de pessoas, mas visa criar um povo que pudesse ser a demonstração do amor de Deus a todas as nações.Israel falhou nesta iniciativa de testificar de Deus a todas as nações, notadamente ao rejeitar o Messias (cfr.João 1:11), abrindo-se, então, uma oportunidade aos gentios para que recebessem a Deus através de Jesus Cristo(João 1:12,13; Rm 9:30-33,10:11-25).Os judeus tinham religião sublime, cuja verdade contrastava com as falsidades das religiões dos gentios. Tinham leis que impediam a corrupção dos costumes e a alteração das práticas religiosas, em contacto com o paganismo, numa prova inconteste de que eles se achavam superiores. Tudo isto levou o povo judeu a desprezar injustamente os gentios. Todavia, o apóstolo Pedro, instruído pela visão que teve em Jope, rompeu com estas restrições, foi visitar Cornélio, que era gentio e comeu com ele, o que deu motivo a que os cristãos israelitas se escandalizassem (Atos 10: 28; 11:1-18).Contudo, Pedro somente foi à casa de Cornélio porque Deus ordenou que ele fosse. O mesmo Deus que deu a visão a Cornélio sobre Pedro avisou Pedro para ir com os enviados a Cornélio. E Deus ainda disse a Pedro: “Vai com eles e não duvides”(Ato 10:20). Percebe-se, pois, que a mentalidade dos apóstolos de Jerusalém estava restrita ao Evangelho dentro dos círculos judaicos. Samaria já fora evangelizada, mas os gentios ainda não eram prioridade. Foi necessário que Deus ainda ordenasse ao Apóstolo Pedro que não duvidasse de suas ordens.Israel era considerado o povo escolhido por Deus. Todavia, essa escolha tinha um fim, que era servir de luz para os gentios (Isaías 49:1-6). Os gentios, também, estavam incluídos na promessa (veja em Isaias 2:2-4; Amós 9:12; Zacarias 9:7). A propósito, as igrejas primitivas compunham-se em grande parte de gentios. O primeiro concílio de Jerusalém resolveu impor a observância dos ritos judaicos (Atos 15:1-29), mas não por muito tempo, visto que os cristãos de então tomaram consciência de que não se vislumbrava nas Sagradas Escrituras nenhuma ligação entre judaísmo e salvação por meio de Cristo, e o que preponderou, graças a Deus, foi a salvação.Vive-se o momento da dispensação aos gentios, da oportunidade para que todos aceitem a Cristo como Salvador (Mt 24:14; 28:19;Mc 16:15; Lc 24:47;At 1:8; Ap 5:9,10).
II. A PREGAÇÃO DO EVANGELHO AOS GENTIOS
O Evangelho do reino foi dado a todo o mundo e não é monopólio de um só povo ou cultura. Se cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus devemos crer necessariamente que missões transculturais é o programa de Deus, visto que de Gênesis ao Apocalipse ela nos revela o amor de Deus pelas nações da terra(Gn 12:3b; Is 49:6; Ap 5:9).O povo judeu, através de sua história, teve um pouco de dificuldade para chegar a compreender esta verdade. Vejamos, por exemplo, a história de Jonas, como diante da ordem de ir a Nínive anunciar o juízo de Deus, ele se recusou e intencionou escapar da presença de Deus. Jonas e muitos judeus como ele tinham desprezo e preconceitos contra os ninivitas, uma vez que os consideravam como pessoas pagãs e contaminadas, com as quais eles não deveriam manter contato. Nínive era uma grande cidade, cujo pecado havia chegado ao limite da paciência de Deus (Jonas 1:1-3). Deus queria dar aos ninivitas uma oportunidade de se arrependerem, antes de desatar seu juízo contra eles, Jonas não queria anunciar a advertência de Deus, pois temia o arrependimento dos ninivitas. Não queria compartilhar a misericórdia de Deus com os demais, pelo contrário, queria monopolizá-la toda para si e seu povo judeu. Deus, porém, não pensava assim. Seu amor e misericórdia estendiam-se a todas as nações; escolheu precisamente a Abraão e o povo judeu para que fossem bênção para todas as nações da terra.No tempo do Novo Testamento, a igreja cristã, que estava começando, era composta principalmente de judeus cristãos, os quais a princípio tampouco compreenderam o que significava o fato de o Evangelho ter sido dado a todas as nações da terra. Os judeus cristãos do primeiro século confundiram o ser cristão com seus ritos, comidas e costumes; isto é, pensavam que o gentio, para ser cristão, deveria tornar-se judeu. Em Atos capítulos 10, 11 e 15 observamos estes temas de cristianização dos gentios. Deus teve de revelar-se a Pedro através de uma visão, onde pede que se levante, mate e coma animais que, embora imundos para Pedro e os judeus, Deus havia limpado e que estavam, portanto, prontos para serem comidos.
Vejamos com mais detalhe a conversão de Cornélio e sua família.Cornélio era um oficial militar romano. Como centurião, comandava cerca de cem homens e fazia parte da coorte chamada Italiana. O que mais chama a atenção, porém, não é sua proeminência militar, e, sim, sua piedade. Era um homem piedoso e temente a Deus que fazia muitas esmolas ao povo judeu necessitado e orava com freqüência (Atos 10:1,2).Um dia, por volta das quinze horas, Cornélio teve uma visão clara na qual um anjo de Deus se aproximava dele e chamou-o pelo nome. Uma vez que era gentio, o centurião provavelmente não tinha conhecimento do ministério dos anjos como um judeu teria, de modo que se encheu de temor e pensou que o anjo era o Senhor. O anjo o tranquilizou, falou do reconhecimento de Deus por suas orações e esmolas e disse-lhe que enviasse mensageiros a Jope(que distava de Cesaréia cerca de 50 quilômetros) e mandasse chamar Pedro que estava hospedado com um homem chamado Simão, curtidor, à beira mar. Cornélio obedeceu sem questionar e enviou dois dos seus servos domésticos e dos seus assistentes, um soldado que também era temente a Deus(cf Atos 10:3-8).No dia seguinte, por volta do meio-dia, subiu Pedro ao terraço da casa de Simão em Jope a fim de orar. O apostolo sentiu fome e quis comer, mas a refeição ainda estaca sendo preparada no piso inferior da casa. Sem dúvida, sua fome foi um prelúdio adequado para o que sucederia. Sobreveio-lhe um êxtase, e ele viu o céu aberto e descendo um lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas. O lençol continha toda sorte de quadrúpedes, répteis e aves, limpos e imundos. Uma voz do céu disse ao apóstolo faminto: “Levanta-te […] mata e come”. Lembrando-se da lei de Moisés que proibia o judeu de ingerir qualquer criatura imunda, Pedro proferiu as famosas palavras de recusa: “De modo nenhum, Senhor!”(cf Atos 10:9-14).Quando Pedro explicou seu histórico de observância fiel às leis alimentares, a voz do céu disse: “Ao que Deus purificou não considere comum”. Esse diálogo se repetiu três vezes, e, em seguida, o lençol foi recolhido ao céu(cf Atos 10:15,16).Evidentemente, o significado da visão ia além da questão de ingerir alimentos limpos ou imundos. Com o nascimento da fé cristã, as leis alimentares haviam sido revogadas, mas a tônica da visão era outra: Deus estava prestes a abrir as portas da fé para os gentios. Pedro, como judeu, ao longo de toda a sua vida havia considerado os gentios impuros, estrangeiros, forasteiros, distantes e ímpios. Agora, Deus faria algo novo. Os gentios(representados pelos animais imundos) receberiam o Espírito Santo da mesma forma que os judeus(animais limpos) já o haviam recebido. Distinções nacionais e religiosas seriam extintas e todos aqueles que cressem no Senhor Jesus estariam, em pé de igualdade dentro da comunhão cristã.Enquanto Pedro meditava sobre a visão, os servos de Cornélio chegaram à porta e perguntaram pelo apóstolo. Ao descobrir o propósito da visita dos homens, Pedro convidou-os a entrar e hospedou-os até o dia seguinte. Os servos demonstraram grande respeito por seu senhor, referindo-se a ele como homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica(cf Atos 10:17-23).No dia seguinte, Pedro partiu para Cesaréia com três servos de Cornélio e alguns irmãos dos que habitavam em Jope. Ao que parece, o grupo viajou o dia todo, pois só no dia imediato chegou a Cesaréia.Em preparação para a chegada do apóstolo, Cornélio havia reunido seus parentes e amigos íntimos. Quando Pedro chegou, Cornélio prostrou-se aos pés dele em sinal de reverencia. O apóstolo recusou essa adoração e disse que também era apenas homem. Seria bom os “sucessores” autodesignados de Pedro imitarem sua humildade e proibirem as pessoas de se prostrarem diante deles!Ao encontrar toda aquela gente reunida na casa, Pedro explicou que os judeus não costumavam entrar na casa de gentios, mas Deus havia lhe revelado que não devia mais pensar nos gentios como párias. Em seguida, perguntou por que razão haviam mandado chama-lo.Cornélio descreveu prontamente a visão que havia tido quatro dias antes, na qual um anjo lhe assegurou que sua oração fora ouvida e o instruiu a mandar chamar Pedro. Esse homem gentio demonstra anseio louvável pela palavra de Deus: “Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor”(cf Atos 10:30-33). O espírito aberto e receptivo ao ensino é sempre recompensado com instrução divina.Antes de iniciar sua mensagem, Pedro reconheceu honestamente que, até então, a seu ver, o favor de Deus estava limitado à nação de Israel. Naquele momento, porém, percebeu que “Deus não faz acepção de pessoas” em razão de nacionalidade, mas busca quem tem o coração honesto e contrito, seja judeu, seja gentio. Em qualquer nação, aquele que teme e faz o que é justo lhe é aceitável (cf Atos 10:34-35). Entretanto, mesmo que uma pessoa tema a Deus e realize obras de justiça, não será salva em razão disso. A salvação se dá somente pela fé no Senhor Jesus Cristo.Atos 10:44-48 diz que Pedro ainda estava pregando quando caiu o Espírito Santo sobre os gentios. Todos falaram em línguas, louvando a Deus. Esse dom foi um sinal de que Cornélio e sua casa haviam, de fato, recebido o Espírito Santo. Os visitantes judeus vindos de Jope admiraram-se ao ver que gentios podiam receber o Espírito Santo sem se tornar prosélitos do judaísmo. Uma vez que Pedro não se encontrava mais tão preso aos seus preconceitos judaicos, percebeu, no mesmo instante, que Deus não fazia distinção entre judeus e gentios e, assim, propôs que os membros da família de Cornélio fossem batizados.Esses gentios haviam sido salvos da mesma forma que os judeus, a saber, pela fé. Não há nenhuma indicação da necessidade de guardar a lei, ser circuncidado ou de seguir qualquer outra prática ou ritual.Ao chegar em Jerusalém, Pedro teve de se justificar diante da igreja por ter batizado os gentios. E seu depoimento só foi aceito porque o apóstolo disse que o Espírito Santo veio sobre os gentios e os encheu, como encheu os crentes israelitas no Pentecostes. Não fosse a atuação do Espírito Santo, que interveio de forma sobrenatural, provavelmente os judeus demorariam mais a entender a ordem do Senhor, de pregar o Evangelho por todo o mundo.
III. JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades“(Ef 2:14-16).Até os tempos do Novo Testamento, o mundo estava dividido em duas classes de pessoas - o judeu e o gentio. Nosso Salvador criou uma terceira classe - a igreja de Deus(1Co 10:32). Nos versículos supracitados o apóstolo Paulo diz que os crentes judeus e gentios são feitos um só em Cristo e são inseridos numa nova comunidade, onde não há judeu nem gentio.Em Ef 2:14, o apostolo Paulo diz que Cristo é a nossa paz - “Porque ele é a nossa paz”. Como pode ser isso? A resposta é a seguinte: quando um judeu crê no Senhor Jesus, ele perde a sua identidade nacional. Daí em diante passa a esta em Cristo. O mesmo sucede quando um gentio recebe o Salvador. A partir desse momento ele está “em Cristo”. Em outras palavras, os crentes, tanto judeus como gentios, antes separados pela inimizade, agora se aproximam, uma vez que Deus fez de “ambos um” em Cristo. Visto que são unidos com Cristo, forçosamente são unidos uns aos outros. Por isso é correto dizer que o homem Jesus Cristo “é a paz”, conforme profetizou Miquéias(Mq 5:5).
1. Aspectos da obra de Jesus como “a nossa paz“. Os aspectos da obra de Jesus Cristo como a nossa paz encontram-se pormenorizados em Ef 2:14-18.a) A obra da união: “de ambos fez um” - a saber, de crentes judeus e gentios“. Agora eles não são mais judeus ou gentios, mas cristãos. Rigorosamente falando, não é certo referir-se a eles como cristãos judeus ou cristãos gentios. Todas as distinções ligadas à carne, como, por exemplo, a nacionalidade, foram cravadas na cruz.b) A obra de demolição: “e, derribando a parede de separação que estava no meio“. Evidentemente não era uma parede, mas uma barreira invisível criada pela lei de Moises, com mandamentos na forma de ordenanças. Isso separou o povo de Israel de todas as demais nações. Para ilustrar esse fato, muitos usam como exemplo a parede que existia no templo judaico e que restringia o acesso de quem não fosse judeu, limitando a permanência dessas pessoas ao átrio dos gentios. Nessa parede havia um letreiro que dizia: “Ninguém das demais nações ouse ultrapassar a barreira ao redor do Lugar Santo. Quem o fizer será responsável pela morte que a seguir lhe será aplicada”.c) O terceiro aspecto da obra de Cristo foi a abolição da “inimizade” que existia entre os judeus e os gentios e também entre o homem e Deus: “desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”(Ef 2:15). Paulo identifica a causa da “inimizade”, a saber, a “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”. A Lei de Moisés era um simples código legal. Porém consistia de dogmas ou decretos que cobriam quase todas as áreas da vida. A lei em si era santa, justa e boa(Rm 7:12), porém a natureza pecaminosa se serviu dela para expressar revolta e ódio. Como a lei colocava Israel num pedestal, dignificando-o como povo escolhido de Deus, muitos dentre os judeus se tornaram arrogantes e desprezaram os gentios. Os gentios por sua vez responderam com profunda hostilidade, hoje conhecida na forma de anti-semitismo. De que modo Cristo removeu a lei como causa de inimizade? Em primeiro lugar ele morreu para sofrer a penalidade da lei transgredida. Assim, Ele satisfez perfeitamente as justas exigências de Deus. Agora a lei nada tem para apontar contra os que estão “em Cristo”. A penalidade foi paga completamente em favor deles. Os crentes não estão mais sob a lei, mas debaixo da graça (Rm 6:14). Isso não significa que podem viver a seu bel-prazer, mas que servem a lei de Cristo e devem fazer o que lhe agrada.2. O alcance da Obra de Cristo: a criação de “um novo homem” - a Igreja (Ef 2:15). Como resultado da abolição da hostilidade levantada pela Lei de Moisés, o Senhor pôde iniciar uma nova criação. “Dos dois”, ou seja, dos judeus e gentios crentes, criou em si mesmo “um novo homem”: a Igreja.Através da união com Ele, os antigos combatentes são unidos uns aos outros numa nova comunhão. A Igreja é nova no sentido de que é uma espécie de organismo que nunca existiu antes. É importante entender isso. A Igreja do Novo Testamento não é a continuação do povo de Israel do Antigo Testamento. É distinta de tudo o que a precedeu ou que ainda vai surgir. Isso é evidente pelo seguinte:a) É novidade os gentios desfrutarem dos mesmos direitos e privilégios que os judeus.b) É novidade tanto os judeus quanto os gentios perderem a sua identidade nacional ao se tornarem cristãos.c) É novidade os judeus e gentios serem membros unidos do Corpo de Cristo.d) É novidade um judeu ter a esperança de reinar com Cristo em vez de ser um simples súdito de Cristo.e) É novidade um judeu não estar sob a lei.
É evidente que a igreja é uma nova criação com vocação e destino distintos, ocupando um lugar excepcional nos propósitos de Deus. Porém, o alcance da obra de Cristo não termina aí. Ele também fez a paz entre judeu e o gentio - “fazendo a paz”(Ef 2:15 , final). Obteve isso removendo a causa da hostilidade, dando uma nova natureza aos crentes e criando uma nova união. A cruz é a resposta de Deus para a discriminação racial, a segregação, o anti-semitismo, a intolerância e todas as demais formas de divisão entre os homens.3. Tendo reconciliado o judeu com o gentio, Cristo ainda reconciliou ambos com Deus - “e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo“(Ef 2:16). Embora fossem amargamente opostos entre si, os judeus e os gentios estavam unidos num aspecto: estavam unidos na sua hostilidade contra Deus. A causa dessa hostilidade era o pecado. Por sua morte na cruz, o Senhor Jesus removeu a inimizade e assim anulou sua causa. Os que o recebem são considerados justos, perdoados, redimidos, resgatados e libertos do poder do pecado. A inimizade desapareceu. Agora têm paz com Deus. O Senhor Jesus uniu em um só corpo os judeus e os gentios crentes, formando a Igreja e apresentando esse corpo a Deus, eliminando então todos os vestígios de antagonismo.Deus nunca precisou ser reconciliado conosco, pois nunca nos odiou. Nós, porém, precisávamos ser reconciliados com Ele. A obra do nosso Senhor sobre a cruz criou uma base justa sobre a qual podemos ser apresentados a Deus como amigos e não como inimigos.
CONCLUSÃO
Concluindo dizemos que a evangelização do mundo tem de ser o objetivo norteador da Igreja, pois isso era a meta central de nosso Senhor - a única razão pela qual o Filho eterno, despojando-se de suas vestes de glória, assumiu nossa forma. Ele veio para “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). A mensagem do evangelho, portanto, deve ir a todas as extremidades da Terra, porque a salvação que Cristo consumou no Calvário visa a toda a humanidade (judeus e gentios).A Igreja não foi edificada por Cristo para construir escolas, fundar hospitais ou assumir cargos políticos, por mais dignas que sejam tais realizações, mas para cumprir com o mandato de “ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald - Comentário Bíblico popular (Novo Testamento)
[1]John Stott - A mensagem de ATOS (Até os confins da Terra)
Bíblia de Estudo Pentecostal.Revista Ensinador Cristão - nº 45.
Por Luciano de Paula Lourenço

Texto Base: Atos 9:1-16
Texto Áureo: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome“ (At 9:15,16).

INTRODUÇÃO
Nesta aula veremos um dos mais importantes encontros já descritos na Bíblia: o de Paulo com o Senhor Jesus Cristo. O relato da sua conversão é uma narrativa que muito nos esclarece a respeito da salvação. As suas características nos permitem verificar o que significa o novo nascimento, a regeneração do pecador, a transformação de uma criatura de Deus em filho de Deus. A narrativa da conversão de Paulo mostra que, antes de se encontrar com o Senhor, o então perseguidor da Igreja era alguém que “respirava ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor”. Paulo, no seu zelo religioso, apenas trazia ameaças e mortes contra o próximo. O zelo religioso, sem a presença de Jesus Cristo na vida do religioso, somente redunda em ameaças e mortes. Paulo, porém, teve um encontro com Cristo, confessou seus pecados, entregou-se inteiramente a Jesus e passou a ter uma nova vida, que implica em um relacionamento intimo e pessoal com Jesus Cristo.

I. SAULO DE TARSO
O apóstolo Paulo era inicialmente chamado de Saulo. Nasceu na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia, costa sul da atual Turquia (At 9:11; 21:39; 22:3). Era fabricante de tendas (ofício que deve ter aprendido quando criança e adolescente em Tarso - cfr. 1Ts 2:9; At 18:3). Depois de Jesus é considerado a figura mais importante do cristianismo. Era um judeu da Diáspora (Dispersão), de uma importante e rica família hebraica tradicional (2Tm 1:3; Fp 3:5; 2Co 11:22; Gl 1:14). Começou a receber desde cedo a formação rabínica, sendo criado de uma forma rígida no cumprimento das rigorosas normas dos fariseus, classe religiosa dominante daquela época, e ensinado a ter o orgulho racial tão peculiar aos judeus da antiguidade.Quando se mudou para Jerusalém, para se tornar um dos principais dos sacerdotes do Templo de Salomão, deparou-se com uma “seita” iniciante que tinha nascido dentro do judaísmo, mas que era contrária aos principais ensinos farisaicos.Dentro da extrema honestidade para com a sua fé e sentindo-se profundamente ofendido com esta “seita”, que se chamava cristã, começou a persegui-la, culminando com a morte de Estêvão, que foi o primeiro mártir do cristianismo.Com a anuência dos principais dos sacerdotes, Saulo viajou para Damasco atrás de seguidores do cristianismo. Na entrada desta cidade, teve uma visão de Jesus, que em espírito lhe perguntava: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Ficou cego imediatamente. Foi então levado para a cidade. Depois de alguns dias, um discípulo de Jesus, chamado Ananias, foi incumbido de orar por ele. Apartir de então, se tornaria o “Apóstolo dos Gentios”, ou seja, aquele enviado para disseminar o Evangelho para o povo não judeu. Foi especialmente perseguido pelos judeus, que o consideravam um grande traidor.Fez quatro grandes viagens missionárias, sendo que na última foi à Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia.Ele escreveu pelo menos treze livros do Novo Testamento - de Romanos a Filemon. Através de suas cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição.No ano de 68 d.C., foi morto pelas Legiões Romanas, nas perseguições aos Cristãos instauradas por Nero, depois do grande incêndio de Roma.
1. A formação cultural de Paulo. Paulo estudou em escola de Tarso, onde teve acesso a todo o pensamento filosófico estóico, que tanto lhe serviria ao longo do seu ministério (que o diga o seu discurso perante o Areópago em Atenas - At 17:15-31 - que é uma demonstração de erudição da filosofia grega). Embora tivesse nascido em Tarso e gozasse da cidadania romana, Paulo era, antes de tudo, um israelita, da tribo de Benjamim (Rm 11:1) e sua erudição e inteligência foram, certamente, os principais motivos que o levaram a estudar a lei com Gamaliel em Jerusalém (At 22:3), o grande mestre fariseu (At 5:34), já que, tudo indica, seu pai pertencia a esta seita judaica (At 23:6). O farisaísmo era uma seita ligada ao judaísmo que valorizava a obediência à lei e a prática dos ritos judaicos.
Em Jerusalém, Paulo completa a sua educação, instruindo-se na lei judaica e dela se tornando um exímio conhecedor. Tornou-se um religioso contumaz (Fp 3:6). Ele mesmo afirmava que em sua nação, excedia em judaísmo a muitos de sua idade, sendo extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl1:14). Era um profundo conhecedor do Antigo Testamento(Rm 1:17; 3:4,510-18; 9:6-33), das tradições de seu povo(At 26:24; 28:17,18; Gl 1:13-14) e da língua hebraica (At 22:1,2).
Percebemos, assim, nitidamente, que Deus permitiu que Paulo fosse formado nas letras judaicas, gregas e romanas, para que fosse um eficaz vaso na propagação do Evangelho entre os gentios a partir de sua conversão. Tudo quanto aprendera seria utilizado no ministério, tanto que Paulo denomina a todo este conhecimento de “esterco” (Fp 3:8), ou seja, como fertilizante, como material que serve para fortalecer, corroborar o conhecimento que adquiriu de Cristo Jesus. Eis uma demonstração cabal de que o conhecimento secular não é obstáculo, mas um auxiliar poderoso no ministério de cada cristão e como não têm razão alguma os inimigos do estudo, os anti-intelectualistas, que, lamentavelmente, ainda existem aos milhares nas igrejas locais. Se o estudo secular fosse um mal, um entrave na obra do Senhor, por que Deus teria preparado durante décadas o apóstolo Paulo?
2. Paulo, cidadão romano. Encontramos em Atos a explicação de Paulo sobre sua identidade: “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia” (At 21:39). No primeiro século, Tarso era a principal cidade da província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. A cidade era um importante porto que dava acesso ao mar por via do rio Cnido, que passava no meio dela. O general romano Marco Antônio concedeu-lhe o privilégio de libera civitas (”cidade livre”) em 42 a.C. Por conseguinte, embora fizesse parte de uma província romana, era autônoma, e não estava sujeita a pagar tributo a Roma. Nessa cidade cresceu o jovem Saulo. Paulo não era apenas “cidadão de uma cidade não insignificante“, mas gozava da cidadania romana, o que, àquela época, era uma prerrogativa de poucas cidades, o que lhe dava o direito de ser tratado como se fosse um natural de Roma. A cidadania romana era preciosa, pois acarretava direitos e privilégios especiais como, por exemplo, a isenção de certas formas de castigo. Um cidadão romano não podia ser açoitado nem crucificado. Todavia, o relacionamento dos judeus com Roma não era de todo feliz. Raramente os judeus se tornavam cidadãos romanos.Paulo era cidadão romano “por direito de nascimento”. Em At 22:24-29 vemos Paulo conversando com um centurião romano e com um tribuno romano(centurião era um militar de alta patente no exército romano com 100 homens sob seu comando; o tribuno, neste caso, seria um comandante militar). Por ordens do tribuno, o centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o Apóstolo protestou: “Ser-vos-á porventura lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At 22:25). O centurião levou a notícia ao tribuno, que fez mais inquirição. A ele Paulo não só afirmou sua cidadania romana, mas explicou como se tornara tal: “Por direito de nascimento” (At 22:28). Isso implica que seu avô ou seu pai fora cidadão romano. “Embora conhecesse muito bem os seus direitos como romano (At 22:25-29;25:10-12,21,27), era-lhe a cidadania celeste (Ef 2:19; Fp 3:20) mais importante do que os privilégios concedidos pelos homens”(Claudionor de Andrade -LBM -pg. 66).

II. A CONVERSÃO DE PAULO
A conversão de Paulo se deve apenas a graça soberana de Deus. A graça divina faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera; a graça liberta. A graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e crer. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Paulo, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.1. O Encontro com Jesus. A narrativa da conversão de Paulo mostra que, antes de se encontrar com o Senhor, o então perseguidor da Igreja era alguém que “respirava ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor”. Paulo, no seu “zelo religioso”, apenas trazia ameaças e mortes contra o próximo. O “zelo religioso”, sem a presença de Jesus Cristo na vida do religioso, somente redunda em ameaças e mortes. Não é de surpreender, portanto, que o “zelo religioso” tenha promovido mortes e tragédias ao longo da história da humanidade e continuará a fazê-lo, inclusive o fará durante o tenebroso governo do Anticristo durante a Grande Tribulação. Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: “… vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus” (João 16:2). Saulo era mais um destes milhões de fanáticos religiosos que, em seu zelo sem Cristo, apenas alimentam a violência, o ódio e a dor. De posse das cartas recebidas do sumo sacerdote com autorização para prender os cristãos que encontrasse em Damasco e os levasse presos a Jerusalém, tem um encontro no caminho com o Senhor Jesus.Saulo e sua escolta (não sabemos quem eram) tinham quase completado sua viagem de cerca de 240 quilômetros, que deve ter levado por volta de uma semana. Quando se aproximaram de Damasco, perto do meio dia, de repente, “uma luz do Céu brilhou ao seu redor”(Atos 9:3), mais clara do que o sol(Atos 26:13). Foi uma experiência tão grandiosa que ele ficou cegado (Atos 9:8,9) e caiu por terra(9:4), prostrado aos pés de seu conquistador(Jesus Cristo). Então uma voz dirigiu-se a ele (26:14), de forma pessoal e direta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. E respondendo à pergunta de Saulo sobre a identidade daquele que falava, a voz continuou: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”(At 9:5). Imediatamente, Saulo deve ter entendido, pela forma extraordinária como Jesus se identificou com os seus seguidores, que persegui-los era perseguir a Ele, que Jesus estava vivo e que suas afirmações eram verdadeiras. Assim obedeceu prontamente à ordem de levantar-se e entrar na cidade, onde lhe seriam dadas outras instruções. Enquanto isso, os seus companheiros de viagem, pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo ninguém (At 9:7). Eles também não entenderam as palavras do orador invisível (Atos 22:9). Mesmo assim, “guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco”(At 9:8). Ele, que esperava entrar em Damasco na plenitude do seu orgulho e bravura, como um autoconfiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. Não podia haver dúvidas sobre o que acontecera. O Senhor ressurreto aparecera a Saulo. Não era um sonho ou uma visão subjetiva; era uma aparição objetiva de Jesus Cristo ressurreto e exaltado. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristo interrompeu a sua impetuosa carreira de perseguição e fez com que se voltasse em direção contrária. Somente um encontro pessoal com Jesus Cristo pode mudar o caráter de uma pessoa. Não há conversão sem que se encontre pessoalmente com Jesus Cristo. Saulo, após se converter, iniciou esta experiência, que alcançou um patamar tão profundo que, certa vez, afirmou: “… vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus…” (Gl.2:20).2. Ananias visita a Paulo(Atos 9:10-19). Três dias haviam passado desde o seu encontro com Jesus ressurreto, “durante os quais nada comeu nem bebeu”(9:9). Como bom fariseu, buscou a Deus em jejum, não mais o jejum ritual e formalista que costumava fazer, mas uma intensa busca de Deus, para saber qual era a vontade do Senhor para a sua vida, tanto que teve uma visão em que Ananias orava por ele e lhe restabelecia a vista (At 9:12), que foi precisamente o que aconteceu, oportunidade em que, demonstrando ser uma pessoa realmente convertida, aceitou ser batizado nas águas e, nesta ocasião, também foi cheio do Espírito Santo, ou seja, batizado com o Espírito Santo (At 9:17,18).A princípio, quando ordenado a visitar Paulo, Ananias vacilou. Ele estava muito relutante em fazer aquela visita, e sua hesitação era compreensível. Ir até Saulo seria o mesmo que se entregar à policia. Seria suicídio. Pois já tinha ouvido a respeito dele e dos males que havia feito ao povo de Jesus em Jerusalém(9:13). Ananias também sabia que Saulo viera a Damasco “com autorização dos principais sacerdotes para prender todos os crentes”(9:14). Mas Jesus repetiu sua ordem, dizendo: “Vai”; e acrescentou que Saulo era um instrumento escolhido para levar o seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel(9:15) - ministério que lhe traria muito sofrimento por amor a esse mesmo nome(9:16). Assim, Ananias foi até à Rua Direita (9:11), que ainda é a principal rua que vai de leste a oeste de Damasco, e entrou na casa de Judas, no quarto em que estava Saulo. Lá ele lhe impôs suas mãos, talvez para identificar-se com Saulo enquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude do Espírito Santo para dar-lhe poder para exercer seu ministério. Imediatamente “lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver”. Depois disso, ele foi batizado nas águas (9:18), provavelmente por Ananias, que assim o recebeu de forma visível e pública na comunidade de Jesus. Só depois, Saulo se alimentou e, então, após três dias de jejum, “sentiu-se fortalecido” (9: 19). Aqui temos preciosas lições: a conversão genuína leva a pessoa a ter uma vida de oração e consagração a Deus. Paulo passou a buscar a Deus assim que se converteu, querendo saber qual a vontade do Senhor para a sua vida. A conversão genuína leva a pessoa a aceitar o batismo nas águas, a cumprir as ordenanças do Senhor. A conversão genuína e a busca incessante do Senhor leva-nos ao revestimento do poder, ao batismo com o Espírito Santo, indispensável para um ministério eficaz. Por fim, a obra do Evangelho não se limita a salvar a alma, mas também a curar o corpo; Saulo foi curado da cegueira, para que pudesse exercer a obra do Senhor. Jesus continua o mesmo: salva, cura e batiza com o Espírito Santo.
3. Saulo, de perseguidor a perseguido(ler Atos 9:19-25). Os discípulos em Damasco abriram o coração e os lares para Saulo. Logo, ele começou a pregar nas sinagogas, proclamando com ousadia que Jesus é o Filho de Deus. Os ouvintes judeus ficaram consternados, pois, até então, Saulo havia odiado o nome de Jesus. Agora, estava pregando que Jesus é Deus, que Ele era o Messias de Israel. Os judeus ficaram tão furiosos que planejaram tirar a vida daquele que, outrora, havia sido seu defensor, mas agora era um “apóstata”, um “renegado”, um “vira-casaca”. Para que Saulo pudesse fugir da cidade, os discípulos o colocaram num cesto grande e desceram-no por um buraco na muralha da cidade durante a noite. Saulo partiu de forma humilhante, mas, como todos aqueles que são quebrantados, pôde suportar por amor a Cristo o opróbrio do qual outros se esquivariam.

III. PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE PAULO
Paulo, um vaso escolhido, foi chamado por Deus desde o ventre materno (At 9:15,16;Gl 1:15). Isso, porém, não tem nada que ver com predestinalismo, que não leva em consideração a livre-escolha(At 26:19; Dt 30:19; Is 1:18-20; Ap 22:17). É no caminho para Damasco que Jesus Se lhe revela e ocorre a extraordinária conversão (At 9:1-18). Quando orava no Templo, em Jerusalém, após sua conversão, Paulo teve uma experiência pela qual sua vocação foi confirmada (At 22:17-21).
Os propósitos da vocação de Paulo são desenvolvidos nas três narrativas de sua conversão exaradas no livro de Atos (At 9:3-18; 22:6-21; 26:12-18).1. Conhecer a vontade de Deus - “E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade…” (At 22:14). Para Paulo conhecer a vontade de Deus era preciso primeiramente que ele tivesse um encontro pessoal com o Senhor Jesus e houvesse uma conversão radical de sua vida. O homem natural, orgulhoso, simplesmente religioso, fanático, materialista, não compreende a vontade de Deus. Sem arrependimento de pecados, não há genuína conversão. Jesus chama Saulo ao arrependimento de seus pecados. Saulo tinha de reconhecer que era o perseguidor, embora isto fosse extremamente penoso para sua mente, concepções e viver. Este chamado ao arrependimento é reforçado pela expressão “dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At.26:14), ou seja, é duro resistir a obedecer a Deus, chegar ao ponto da ferida, retirar o “aguilhão”, ou seja, a ponta de ferro da aguilhada, o orgulho próprio, a vaidade pessoal, o que sempre ocasionará dor (na NVI, a expressão é “resistir ao aguilhão só lhe trará dor”), mas que é absolutamente indispensável para que sigamos a Cristo. Sem renúncia de nós mesmos, sem tomarmos a nossa cruz, é impossível seguir o Senhor Jesus (Mc 8:34; Lc 9:23), é impossível conhecer a sua vontade. Paulo passou a buscar a Deus assim que se converteu, querendo saber qual a Sua vontade para a sua vida.Para sabermos a vontade de Deus para nossa vida é necessário que cultivemos uma vida de íntima comunhão com Ele. À medida que conhecemos o Senhor sua vontade vai se tornando mais evidente para nós. Romanos 12:2 nos diz: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”
2. Tornar-se ministro e testemunha de Jesus - “… porque te apareci por isto, para te por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda“(At 26:16). Saulo seria, acima de tudo, apóstolo aos gentios, uma comissão que o colocaria diante de reis. Não obstante, pregaria também aos seus compatriotas segundo a carne e seria nas mãos deles que sofreria perseguição mais intensa. “Pela formação do apóstolo Paulo, não é possível vislumbrar que seu ministério fosse para os gentios, pois quando apresenta sua biografia, de forma breve, mostra que sua formação intelectual e social estava voltada para atender aos interesses do Judaísmo. Mas Deus tinha outros planos para ele. Seu desafio seria falar com aqueles que estavam fora dos círculos judaicos, e essa era uma tarefa e tanto. Se os judeus, com o conhecimento da Lei de Moisés (que trazia as profecias sobre Jesus e a sua vinda), nem sempre aceitaram a mensagem do Evangelho, quem dirá os gentios, que nem sequer tinham, em muitos casos, o conhecimento da Lei nem a fé no Deus de Israel. Mas esse desafio foi vencido de tal forma que o Evangelho chegou até nós” (Ensinador Cristão nº 45).
3. Sofrer a favor de Cristo e do evangelho - “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. “Pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome“(Atos 9:15,16). A conversão de Paulo incluiu não somente uma ordem para pregar o evangelho, mas também uma chamada para sofrer por amor a Cristo. Paulo foi informado desde o início que ele sofreria muito pela causa de Cristo. No reino de Cristo, sofrer por amor a Ele é um sinal do mais alto favor de Deus (Mt 5:11,12; Rm 8:17; 2Tm 2:3) e o meio de ter um ministério frutífero (2Co 1:3-6); resulta em recompensas abundantes no céu (Mt 5:12; 2Tm 2:12). Para outros textos sobre os sofrimentos de Paulo, ver 2Co 4:8-18; 6:3-10; 11:23-27; Gl 6:17; 2Tm 1:11,12.

CONCLUSÃO
A conversão é obra do Espírito Santo na vida do homem. É o Espírito Santo que convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), não sendo uma tarefa que se faça por força ou violência (Zc 4:6). O violento e zeloso Paulo, que, por meio de ameaças e mortes, procurava levar os cristãos judeus de volta ao judaísmo, descobriu que a transformação do homem se dá pelo Espírito Santo. Paulo é um exemplo impressionante da graça de Deus que causou efeitos tão grandiosos, agarrando um rebelde obstinado como ele e transformando-o completamente de “lobo em cordeiro”. “Existem muitos Saulos de Tarso no mundo. Como ele, são intelectualmente bem dotados e têm caráter; homens e mulheres de personalidade, energia, iniciativa e impulso; tendo a coragem de suas convicções seculares; profundamente sinceros, mas sinceramente enganados; viajando de Jerusalém para Damasco, e não de Damasco para Jerusalém; duros, teimosos, até mesmo fanáticos, em sua rejeição de Jesus Cristo. Mas eles não estão fora do alcance de Sua graça soberana. Precisamos ter mais fé, mais expectativa santa, que nos levarão a orar por eles (como, com certeza, os cristãos primitivos oraram por Saulo) para que Cristo primeiro pique com seus aguilhões para depois agarrá-los definitivamente” (John Stott).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com/

Referências Bibliográficas:
William Macdonald - Comentário Bíblico popular (Novo Testamento)
John Stott - A mensagem de ATOS (Até os confins da Terra)
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão - nº 45.
Eliezer de Lira e Silva - Paulo, um missionário zeloso e autêntico.

Quando a Igreja de Cristo é Perseguida - Luciano de Paula Lourenço

Texto Base: Atos 8:1-8
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa”(Mt 5:11).

INTRODUÇÃO

“Perseguição” é o “ato de seguir até o fim, instar, reclamar, buscar, procurar, prosseguir, continuar”, sendo uma palavra que vem do latim “persequor”, que tem a idéia de “que segue assiduamente, que prossegue sem descanso; que não larga, que não descontinua”, ou, numa expressão bem popular, “que não larga do pé”.
Desde o seu nascedouro, a Igreja foi e está sendo perseguida. Satanás nunca a deixou quieta. Assim que uma pessoa aceita a Cristo e passa a pertencer à Igreja, passa a ter em seu encalço o adversário, que não descansa enquanto não conseguir tirar esta pessoa da luz, trazendo-a de volta para as trevas. É uma luta incansável do adversário e, por isso, o Senhor nos manda ter bom ânimo, pois não podemos nos cansar. Enquanto estiver aqui na Terra a Igreja passará por perseguições. O apóstolo Paulo ressaltou isso quando escreveu ao jovem Timóteo: “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3:12).
Estevão, um dos primeiros mártires da Era Cristã, sentiu na pele o peso da perseguição (At 7:52), mas não apenas ele, a igreja primitiva pagou um alto preço por seguir a Jesus (Hb 11:38; 1João 3:12); basta ler as histórias dos mártires do Coliseu para constatar. Paulo é um caso especial de alguém que perseguiu e depois passou a ser perseguido (At 9:1-9; Fp 3:6; 1Co 15.32; 2Co 11.23). No Apocalipse, a igreja de Esmirna, tipifica a igreja perseguida e vitoriosa (Ap 2:9,13).
I. OS EFEITOS DA MORTE DE ESTÊVÃO

Usando os seus súditos, Satanás matou Estevão. O resultado para o reino de Satanás foi catastrófico. Os crentes de Jerusalém se espalharam por toda parte e incendiaram o mundo através da pregação do Evangelho.
A morte de Estevão desencadeou uma perseguição generalizada contra a igreja(Atos 8:1-3). Os cristãos foram dispersos por toda a Judéia e Samaria. Até então, o testemunho dos discípulos tinha se limitado exclusivamente a Jerusalém. A perseguição serviu, então, para impelir os discípulos receosos de levar o evangelho a outros lugares. Do ponto de vista humano, foi um dia sombrio para os cristãos. Um membro de sua comunidade dera a vida pela fé. Eles próprios estavam sendo perseguidos como animais. Do ponto de vista divino, porém, foi auspicioso. Um grão de trigo precisava ser plantado no solo para dar muito fruto. Os ventos da aflição estavam levando a lugares distantes sementes do evangelho que dariam frutos incalculáveis.
1. Efeito sobre Paulo. O martírio de Estevão teve um efeito no caráter e personalidade de Paulo. Certamente, a morte daquele servo de Deus impressionou profundamente ao fariseu Saulo de Tarso, contribuindo para a sua conversão, levando-o a se tornar apostolo dos gentios. Mas tarde, Paulo, agora apostolo, faz menção de que ele fora cúmplice da execução de Estevão e que aquele fato lhe impressionara: “E,quando do sangue de Estevão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as vestes dos que o matavam”(At 22:20).
2. Efeitos sobre a Igreja. A Igreja ficou abalada, até mesmo aturdida com o martírio de Estevão e com a oposição violenta que se seguiu. Mas, olhando adiante, podemos ver como a providencia de Deus usou o testemunho de Estevão, em palavras e em obras, na vida e na morte, para promover a missão da Igreja. Quando os “piedosos varões” puseram-se a sepultar o corpo de Estevão, não sabiam eles estarem, na verdade, semeando uma semente que, de imediato, multiplicar-se-ia dentro e fora dos termos de Israel. Tertuliano disse: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”.
A morte de Estevão ocasionou “uma grande perseguição“, que provocou a dispersão dos discípulos “pelas regiões da Judéia e Samaria”(At 8:1). Por toda parte aonde iam, pregavam as boas-novas da salvação. Filipe, o “diácono” do capítulo 6, que tinha o dom ministerial de evangelista(At 21:8), foi para o norte, para a cidade de Samaria(Atos 8:6). Além de anunciar Cristo, realizou muitos sinais. Os espíritos imundos foram expulsos, e muitos paralíticos e coxos foram curados. Como a mensagem genuinamente evangelística e cristocêntrica resulta em bênçãos divinas e conversões, havia muita alegria na cidade. A pregação de Filipe era acompanhada de cura e libertação, por isso, atraiu toda a população de Samaria. Muitos se converteram ao evangelho e, como aconteceu em Jerusalém no Dia de Pentecostes, foi realizado um batismo em água, que marcou o início da igreja naquela localidade (ler Atos 8:4-8).
É interessante observar que o “feitiço” do diabo (que está por trás de toda a perseguição à Igreja) se voltou contra ele mesmo. Seu ataque resultou num efeito contrário àquele que havia planejado. Ao invés de aniquilar o evangelho, a perseguição apenas o espalhou. Como disse certo escritor: “o vento aumenta a chama”. Um exemplo moderno é o que aconteceu na China, em 1949, quando o governo foi derrotado pelos comunistas. 637 missionários da Missão para o Interior da China foram obrigados a deixar o país. Parecia um desastre total. Segundo Johh Stott, “dentro de quatro anos, 286 deles foram trabalhar no Japão e no Sudoeste da Ásia, enquanto que os cristãos chineses, mesmo sob severa perseguição, começaram a se multiplicar e agora perfazem um número trinta ou quarenta vezes maior do que o existente quando os missionários saíram (os números não são conhecidos)”.
A igreja é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja. Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida. No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer.
II. QUANDO A IGREJA É PERSEGUIDA
As perseguições contra a Igreja nunca cessaram. Satanás sempre “bateu” de frente com a Igreja, mas perdeu todas. O Senhor Jesus havia dito que “…as portas do inferno não prevalecerão contra ela”(Mt 16:18). Hoje, a perseguição é camuflada. Satanás, sutilmente, está usando pessoas de dentro da igreja (falsos mestres e falsos pastores) para persegui-la, com disseminação de falsas teologias, falsas doutrinas, falsos ensinos. Peçamos a Deus o dom de discernimento, ele é indispensável nestes últimos dias da Igreja.
A opressão sofrida pela igreja, ao longo do tempo, se deu de várias maneiras: por meios religiosos, teológicos, em cumprimento a determinações legais, políticos e/ou culturais. Em muitos lugares esses elementos foram aplicados de modo integrado a fim de que os perseguidos não encontrem escapatória. Por falta de espaço, trataremos aqui, em resumo, apenas sobre a perseguição física, cultural e institucional.
1. Perseguição física. O início da perseguição dos judeus contra a igreja se deu quando Pedro e João, em o nome de Jesus, curaram um coxo de nascença que ficava esmolando à “porta do templo chamada Formosa” (At 3:2). Naquele episódio, os apóstolos foram presos (At 4:3), mas muitas pessoas creram, elevando o número dos cristãos a quase cinco mil (At 4:4). A igreja primitiva sofreu muito com as prisões, ameaças e mortes, mas nada disso impossibilitou seu extraordinário crescimento (At 5:19, 29; 6:8-15).
No Império Romano a perseguição física aos cristãos foi tremenda e horrível. Segundo os historiadores, Nero chegou ao poder em outubro do ano de 54. Era um homem insano, filho de Agripina, uma mulher assassina e perversa. Na noite de 18 de julho de 64, estourou um catastrófico incêndio em Roma. O fogo durou 6 dias e 7 noites. 10 dos 14 bairros da cidade foram destruídos pelas chamas vorazes. Segundo rumores este incêndio foi produto da loucura do próprio Nero, que o assistiu no alto da torre de Mecenas, no cume do Palatino, vestido como um ator de teatro, tocando sua lira e cantando versos acerca de destruição de Tróia. Pelo fato de 2 bairros onde havia a maior concentração de judeus e cristãos não terem sido atingidos pelo incêndio, Nero encontrou uma boa razão para culpar os cristãos pela tragédia. Daí para a frente, eclodiu uma sangrenta perseguição física. Além de matá-los com requinte de crueldade, fê-los servir de diversão para o público. Segundo o historiador Tácito, os cristãos eram vestidos de peles de animais para que os cães os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros, ao cair da noite, eram amarrados nos postes e ateavam-lhes fogo para iluminarem os jardins de Roma. Sua loucura só não foi mais longe, porque no ano de 68 boa parte do império se rebelou contra ele e o Senado romano o depôs. Desesperado, sem ter para onde ir, suicidou-se. No ano 70, Tito, filho de Vespasiano, envergando a púrpura romana, tomou Jerusalém e destruiu a cidade com crueldade indescritível. Naquele tempo multidões foram esmagadas. Ele também construiu o Coliseu Romano e nos 100 dias de inauguração 10.000 cristãos foram mortos. Correu na cidade um rio de sangue. Milhares foram mortos de fome, outros foram crucificados, outros foram devorados à espada, outros foram deportados como mercadoria e vendidos como escravos. Houve uma dispersão para o mundo inteiro.
Satanás, usando o império Romano matou milhares, porém, converteram-se milhões. No final de cerca de dois séculos e meio de ardente e terrível perseguição, segundo a história, havia cerca de seis milhões de cristãos no Império Romano. Deu tudo errado para Satanás. A Igreja, tendo o Senhor Jesus como seu Comandante, venceu, e seguiu triunfante.
Na Idade Média, vários foram os instrumentos destrutivos que os Papas usavam para intimidar os crentes fiéis, e uma delas, foi a satânica “santa inquisição”. Muitos cristãos foram queimados vivos nas fogueiras do ódio, mas Satanás fracassou outra vez. Os cristãos perseguidos por toda Europa, começaram a migrar para a América. Acabaram construindo nela a maior potência da Terra e, através dela, o Evangelho foi sendo alcançado por todo o mundo, tendo inclusive chegado ao Brasil. Deu tudo errado para Satanás. A Igreja tendo o Senhor Jesus como seu Comandante, venceu, e seguiu triunfante.
2. Perseguição cultural. A perseguição cultural manifesta-se por meio da literatura anticristã e através da indústria de entretenimento. Escritores e intelectuais seculares, a serviço do inferno, têm feito de tudo para profanar e perverter o evangelho de Cristo. Certo autor, de renome internacional, publicou recentemente um livro que relata uma falsa história sobre a vida sentimental de Jesus. Este livro possui o mesmo teor dos livros hereges e antibíblicos rejeitados pela igreja nos primeiros séculos do cristianismo.
Além da literatura, outras manifestações culturais têm sido usadas para desqualificar e desacreditar o Cristianismo. Peças teatrais, filmes como “A Última Tentação de Cristo”, músicas, pinturas, e outras formas de expressão artística têm sido manipuladas pelo Diabo para afastar as pessoas do evangelho de Cristo.
A igreja permanece fiel ao seu caráter ao preservar sua distinguibilidade. Ela não faz nenhum favor à sociedade adaptando-se à cultura popular prevalecente, porque falha em sua tarefa justamente no ponto em que deixa de ser ela mesma. Quando a Igreja adota uma ética moral formada pela cultura popular prevalecente, está negando sua natureza. Antes, a Igreja tem de expressar a ética social que já encarna; tem de transmitir a história de Cristo, uma história que continuamente causa impacto nas relações sociais dos seres humanos.
A igreja deve ser ela mesma pelo bem da humanidade. É o papel da Igreja servir e transformar a sociedade e suas instituições. Para realizar esta tarefa, a igreja deve ser a Igreja e não se assimilar com a cultura popular prevalecente. Só um Cristianismo que não se envergonha de ser ele mesmo pode fazer isto.”(
JOHNS, C.B.;WHITE, V.W. A ética de ser: caráter, comunidade, práxis. In: PALMER, M.D. (ed.) Panorama do pensamento cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 314.)
3. Perseguição institucional. A perseguição não se dá apenas pelo uso da força bruta, da proibição clara e objetiva de pregação do Evangelho, máxime nos dias trabalhosos em que vivemos, onde as sutilezas do inimigo estão mais aguçadas do que nunca, em que o inimigo não se apresenta ameaçador, bramando como leão, buscando a quem possa tragar (1Pe 5:8), mas como a astuta e quase imperceptível serpente (Gn 3:1), que, sorrateiramente, se insere no meio do povo de Deus e prepara, com muito cuidado, o seu bote fatal.
O poder político tem sido utilizado para que as pessoas sejam obrigadas a consentir e concordar com o pecado, sejam impedidas de combater contra o pecado. Sob o nome de “tolerância”, de “democracia” e até mesmo de “proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana”, inúmeras iniciativas têm procurado forçar as pessoas a aceitar o pecado, a consentir com a sua prática, quando não se está a estimulá-la.
Assim, por exemplo, recentemente em nosso país, iniciou-se uma campanha para a aprovação do crime de homofobia(a PEC 122), criminalizando, na prática, toda e qualquer manifestação contrária ao homossexualismo.
A Igreja tem a obrigação de dizer ao mundo que a Palavra de Deus condena a prática do homossexualismo voluntário, que esta atitude é, aos olhos de Deus, o ápice da rebeldia do homem contra o seu Criador (Rm 1:26-28). Apesar de ser direito fundamental da pessoa humana a liberdade de manifestação do pensamento, tenta-se impedir a pregação contra o homossexualismo, enquanto que a pregação contra o heterossexualismo continuará sendo livre e ilimitada. Que é isto senão a utilização do poder político para se impedir a pregação da Palavra de Deus pela Igreja?
Passou-se a considerar que a defesa da Palavra de Deus e de seus valores e princípios, sem qualquer tolerância com o pecado, é uma atitude de “fundamentalismo religioso”. Sob este nome, o inimigo tem alardeado e convencido muitas pessoas que os defensores de uma autêntica vida cristã são tão nocivos e perniciosos quanto os terroristas do chamado “fundamentalismo islâmico”. A utilização, aliás, da mesma palavra (”fundamentalismo”) já faz parte da estratégia do adversário de criar ojeriza e repugnância da sociedade a tudo quanto representar a defesa da Bíblia Sagrada e do seu teor.
Vivemos dias em que todo aquele que diz que não há comunhão entre a luz e as trevas e que quem não aceitar a Cristo sofrerá a morte eterna é considerado um elemento “intolerante”, “preconceituoso”, “ignorante” e “indigno de conviver ou ter sucesso na sociedade”. A discriminação contra este “tipo de gente” é evidente e não é considerada atentatória aos direitos humanos, mas uma “atitude civilizada e pós-moderna”. Tem-se, assim, uma evidente perseguição institucional, mais uma atuação das “portas do inferno”.
III. COMO ENFRENTAR A PERSEGUIÇÃO
1. Evangelizando e fazendo missões. Que deve o servo do Senhor fazer diante de um quadro de perseguição? Agir como agiram os irmãos da igreja primitiva e dos outros períodos da história da igreja. Temos de combater o bom combate (2Tm 4:7). Apesar de toda a oposição, continuar a proclamar e a viver o que diz a Palavra de Deus, não titubear nem vacilar, mas seguir em frente dizendo que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o Céu. Dizer que pecado é pecado, que Deus ama o pecador, mas abomina o pecado e que há uma solução para o pecado do homem: crer em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29).
Muitas são as oportunidades que o Senhor tem nos dado para proclamarmos sua Palavra. Que não venhamos a ficar intimidados, deixando de testemunhar de Cristo, mesmo diante dos críticos, maus exemplos de alguns ou qualquer tipo de perseguição. Sigamos de perto a postura dos primeiros crentes.
Os “Atos dos Apóstolos” mostram que nenhuma perseguição impediu que o evangelho fosse difundido com intrepidez pela Igreja Primitiva. A despeito da perseguição, em menos de meio século a igreja, sem recursos, sem meios modernos de comunicação e transporte, sem literatura alcançou o mundo inteiro, penetrou como fermento em todo o império romano. Cada crente era uma testemunha. Era um corpo vivo. Foi em meio à perseguição que a igreja teve o seu início, cresceu e continuou crescendo. Assim, também, a igreja atual deve ser: aguerrida, ousada, destemida, cônscia da sua principal responsabilidade: a pregação do Evangelho. Não importando quão negras são as nuvens da perseguição.
2. Apresentando uma apologia de nossa fé. Se, por causa da manutenção da fé em Deus e na Sua Palavra, viermos a ser discriminados, ridicularizados, o servo do Senhor deve exultar e se alegrar, porque é grande o galardão nos céus (Mt 5:12), regozijar-se de ter sido julgado digno de padecer afronta pelo nome de Jesus (At 5:41).
Sabemos que não é fácil uma atitude destas, mas o genuíno e autêntico servo do Senhor tem de ter este sentimento. Jesus, logo após ter feito a “declaração de Cesaréia”, ensinou aos discípulos que deveria padecer e morrer para cumprir a vontade de Deus e o inimigo, imediatamente, usando a boca de Pedro, procurou criar no Senhor um sentimento de auto-comiseração. O verdadeiro servo do Senhor Jesus não tem pena de si mesmo, não se coloca à frente da vontade de Deus, mas se nega a si próprio e toma a cruz (Mc 8:34; Lc 9:23). Quem não toma a sua cruz e não segue após o Senhor, quem ama mais a si ou a outrem do que ao Senhor não é digno do Senhor (Mt 10:37,38).
Em 1Pedro 3:15, o apostolo Pedro conclama o crente à reverencia interior(a santificação) para com Cristo e à dedicação a Ele como Senhor, no sentido de sempre estarmos dispostos a defender a sua causa e a explicar o evangelho aos outros(cf Is 8:13). Assim sendo, devemos conhecer a Palavra de Deus e a sua vontade, a fim de testemunhar corretamente de Cristo e levar outras pessoas a Ele.
3. Conservando nossa identidade como povo de Deus. Alguém disse que o “Amor é o cartão de identidade do cristão”. Na verdade, o amor é a característica de destaque de alguém que se diz Cristão, é a sua identidade principal, ou o seu distintivo. Alguém que não ama a Deus, que não ama a si próprio, que não ama ao seu próximo não pode se identificar como sendo Cristão. Jesus deixou-nos muito claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor(João15:12; 1João 2:10,11; 3:10,11).
Nos dias atuais, cada vez mais se alastra o egoísmo - está em alta a máxima popular: “cada um por si e Deus por todos“. Como alertou o apóstolo Paulo na sua última carta, os homens são “amantes de si mesmos” (2Tm 3:2), e até mesmo os atos que fazem sob aparência de piedade são manifestações de seu egoísmo e de um individualismo. Assim, muitos chegam até a fazer filantropia, a dar esmolas e promover o bem-estar do próximo, mas visando, com isso, benefícios para si, como uma projeção na sociedade que lhe angarie simpatia, popularidade e poder político, ou mesmo, tentam, com isso, em vão, obter a própria salvação de sua alma. São ações egoísticas, que não têm qualquer valor diante de Deus e de sua Palavra.
O apóstolo Paulo diz que somente seremos verdadeiros servos do Senhor se apresentarmos os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando com este mundo, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:1,2). Não se conformar com o mundo é não tomar a forma deste mundo, é não aceitar a maneira de viver do mundo. Por isso, o cristão jamais pode consentir com a prática do pecado, pois são dignos de morte tanto quem pratica tais coisas, como quem consente com a sua prática (Rm 1:32).
Diante da “perseguição”, precisamos lutar contra as hostes espirituais da maldade, revestindo-nos da armadura de Deus, cuja arma de ataque é a espada do Espírito, que é, precisamente, a Palavra de Deus (Ef 6:17) e que tem no escudo da fé a principal arma para se defender dos dardos inflamados do inimigo (Ef 6:16). Somente confiando em Deus e nas Suas promessas, poderemos manter o bom combate contra o pecado, mesmo em meio às perseguições que têm se levantado contra a Igreja.
CONCLUSÃO
O autêntico cristão é cônscio de que a perseguição faz parte da caminhada, já que Cristo nos advertiu nesse sentido (Mt 5:11,12; Lc 11:48,51; 21:12; Mc 4:17; João 15:20). Não devemos temê-las, cientes de que as venceremos pela fé em Cristo (1João 5.4). A Igreja sempre prevalecerá. Jesus, o autor da Igreja, foi enfático ao afirmar que “as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja”(Mt 16:18). Que Deus abençoe o seu povo!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:
William Macdonald - Comentário Bíblico popular(Novo Testamento)
John Stott - A mensagem de ATOS(Até os confins da Terra)
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão - nº 45.
Elinaldo Renovato de Lima - Tempos trabalhosos: como enfrentar os desafios deste século.
A Importância da Disciplina na Igreja
At 5.1-11

"Toda disciplina, com efeito, no momen­to não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que tem sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.11).

Na lição desse domingo estudaremos a res­peito da importância da disciplina na igreja. A disciplina é necessária para que haja ordem no Corpo de Cristo. Ela pode ser coerciva como também educativa. Tanto no Antigo como em o Novo Testamento, o Criador sempre disciplinou os seus servos, para que esses vivam em plena comunhão com Ele.
O objetivo da disciplina cristã é proporcionar ao crente uma intimidade profunda com o seu Criador. Além disso, a expressão "disciplina cristã" é utilizada em dois sentidos: práticas espirituais, devocionais, sociais e correção terapêutica. Algumas das primeiras são: a adoração a Deus, leitura diária e sistemática da Bíblia, oração, serviço, mordomia do corpo e dos bens. Quanto à segunda, sendo devidamente administrada, pos­sui um efeito salutar e restaurador. Ela não deve servir para envergonhar, mas para edificar a fé do fraco e daquele que vacilou na caminhada.

Numa igreja descompromissada com a sã doutrina, crentes como Ananias e Safira seriam até homenageados por sua "libera­lidade e altruísmo". Mas numa igreja que prima pelo ensino, não subsistiriam. Haveriam de ser desmascarados, repreendidos e fulminados pelo próprio Deus, pois Ele sonda-nos a mente e o coração. A falta de doutrina, pois, acaba por induzir toda uma congregação à hi­pocrisia e à mentira.

No episódio de Ananias e Safira, Lucas destaca o valor da disciplina na Igreja de Cristo. Por conseguinte, vejamos porque o ensino é imprescindível ao povo de Deus.

I. A DISCIPLINA E SUA NECESSIDADE

1. Definindo a disciplina. O que é disciplina senão ensino? Mas possui ela também o seu lado grave: a correção (Pv 15.10). Seu objetivo é conscientizar-nos quanto às consequências de nos­sas atitudes (Cl 6.7). A falta de disciplina pode conduzir à morte. Foi o que aconteceu a Ananias e a Safira.

2. A disciplina no Antigo Testamento. Por intermédio de seus profetas, Deus mostra ao seu povo o valor e a imprescindi­bilidade da disciplina (Jó 5.17). Ele requer que todos os seus filhos se­jam ensinados na Lei e nos Profetas (Sl 25.8). A disciplina é tão preciosa quanto à própria vida (Pv 6.23). Eis o que diz Salomão: "O que ama a correção ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é um bruto" (Pv 12.1).

Nestes tempos tão difíceis e trabalhosos, nós pais somos coagidos a não aplicar a disciplina aos nossos próprios fi­lhos. É claro que também somos contra os maus tratos impingidos às crianças. Mas que estas têm de ser disciplinadas, não o podemos negar. A recomendação é do próprio Deus: "O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o dis­ciplina" (Pv 13.24). Por que os educadores contrários à educação cristã, ao invés de nos constrange­rem com as suas impropriedades, não saem em defesa das crianças abandonadas e prostituídas que fervilham nossas cidades? É neces­sário e urgente resgatar a infância abandonada e proporcionar-lhe uma vida digna e segura.

3. A disciplina em o Novo Testamento.

SÍMBOLOS DA DISCIPLINA DA VIDA CRISTÃ
Soldado - Como soldados de Cristo ajamos de modo discipli­nado e perseverante, a fim de agradar ao que nos arregimentou para a guerra (2 Tm 2.3-5).
Atleta - No tempo antigo, eram os atletas mais do que discipli­nados. Na conquista de uma coroa de louro, empenha­vam-se além de suas forças (1 Co 9.25).
Agricultor - O agricultor é paciente e disciplinado, pois o cultivo é árduo e estressante. O agricultor prepara a terra, lança a semente, rega, afugenta os predadores e depois colhe os frutos (Jo 4.36).

Embora vivamos sob os termos da Nova Aliança, Deus em nada mudou quanto ao padrão disciplinar de seu povo. Haja vista o Sermão do Monte. Agora, além de o Senhor ratificar o sétimo mandamento, por exemplo, requer tenhamos nós um coração puro (Mt 5.27,28). Por conseguinte, viver sob a lei do Espírito requer uma disciplina ainda maior.

Por quebrarem a disciplina, Ananias e Safira foram severamen­te punidos pelo Senhor. Tanto no Antigo como em o Novo Testamento a disciplina orienta e evita que o erro torne-se repetitivo.

II. A OFERTA DE ANANIAS E SAFIRA

Disposto a dedicar-se inte­gralmente ao cumprimento da Grande Comissão, Barnabé vende a sua propriedade e entrega todo o dinheiro aos apóstolos. Lucas, ao registrar o fato, realça o des­prendimento daquele levita natu­ral da ilha de Chipre, que haveria de prestar relevantes serviços ao Reino de Deus (At 4.36,37).

Ananias e Safira, imitando a Barnabé, também vendem a sua propriedade. Ao contrário deste, o casal retém parte do dinheiro, e repassa o restante aos após­tolos, como se aquele depósito representasse o valor total da propriedade. Eles, porém, seriam desmascarados, repreendidos e mortalmente punidos. Não se pode mentir a Deus.

1. O pecado contra o Espí­rito Santo e a Igreja. O pecado de Ananias e Safira não foi um requinte social como eles supu­nham; constituiu-se numa ofensa contra o Espírito Santo (At 5.9). Ajamos, pois, com muito cuidado, porque o Senhor chamar-nos-á a prestar contas de todas as pala­vras frívolas que proferirmos (Mt 12.36).

Se formos disciplinados na Palavra de Deus, jamais cairemos no erro de Ananias e Safira: men­tira, hipocrisia e roubo. Como vem você agindo? Tem se dado à mentira? Cuidado. Os mentirosos não terão guarida no Reino de Deus (Ap 22.15).

2. Uma oferta como a de Caim. Nossa atitude diante do Senhor é sempre mais importante do que a nossa oferta. Vejamos a história de Abel e Caim. Ambos trouxeram o fruto do seu trabalho a Deus. O primeiro teve a sua ofe­renda aceita, pois justo era o seu coração. Quanto ao segundo, por ser iníquo, foi rejeitado (Gn 4.6,7). Antes de atentar para a oferta, o Senhor contempla o ofertante.

Ananias e Safira poderiam ter vendido a propriedade pelo valor que bem entendesse e haver dado todo o montante, ou parte deste, à Igreja. Pedro deixou-lhes isso bem patente (At 5.4). Mas como o casal, buscando a própria honra, não men­tiram somente a Pedro, mentiram também ao próprio Deus (At 5.3). “disciplina divina tem um propósito positivo. Eia nos é administrada para que participemos da santidade de Deus." Deus observa o coração do ofertante, isto é, a sua verdadeira intenção e não o valor da oferta.

III. O EXTREMO DA DISCIPLINA

Ananias e Safira conheciam muito bem a doutrina dos apóstolos e não ignoravam o Antigo Testamen­to. Nas sinagogas, ouviam sábado após sábado, a leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas. Chegaram eles a conhecer a Jesus? É bem pro­vável. Por conseguinte, não foram eles punidos inocentemente. Ao mentirem a Pedro, sabiam estarem ofendendo o Espírito Santo. Eles sabiam que esse pecado era gravíssimo (Mt 12.32).

1. A sentença de morte. Con­frontado pelo apóstolo Pedro, Ananias viu-se desmascarado. Naquele momento, aliás, vê-se ele diante do tribunal divino e do Senhor recebe a sentença pela boca do apóstolo: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus" (At 5.3,4).

Informa Lucas que, ouvindo a reprimenda de Pedro, Ananias caiu por terra fulminado. O mesmo aconteceria à sua esposa três horas depois (At 5.10). O casal que contra o Senhor peca unido, unido também perecerá. Não poderiam eles andar no temor e na disciplina divina?

2. A maldição é retirada do arraial dos santos. Se Ananias e Safira não houvessem sido confron­tados e punidos, a Igreja de Cristo, como um todo, sofreria por causa do anátema. Lembra-se do caso de Acã?

"Certamente Acã descobriu que o pecado é uma emoção passa­geira. Houve a emoção de obter alguma coisa secretamente. Ele teve a emoção de conhecer uma coisa que os outros não conheciam. Ele teve a emoção de ser procurado. Finalmente, chegou a emoção de ser o centro das atenções, de ser 'a manchete do dia'. Há pessoas dispostas a trocar suas vidas por essas compensações.

Mas a emoção teve vida curta. O que ele fizera foi logo descober­to por todos. O que ele havia escondido foi rapidamente manifesto a toda a sua nação. Aquilo que ele considerou valioso mostrou-se impotente para ministrar-lhe. Aquilo que ele teve orgulho tornou-se sua vergonha. Sua alegria transformou-se em tristeza. Sua emoção momentânea terminou numa morte violenta. Com ele pereceu tanto aquilo que ele havia roubado quanto o que era legitimamente seu. Ele recebeu o salário do pecado. Ele foi 'sem deixar de si saudades' (2 Cr 21.20).

Este evento evidencia o princípio de que somente aqueles que vivem vidas submissas diante de Deus recebem ajuda do Senhor. Acã recusou-se a se submeter ao plano de Deus. Ele carecia da santidade que daria permanência ao seu programa de vida.

O fato de que 'nenhum de vós vive para si e nenhum morre para si' (Rm 14.7) é ilustrado pela vida de Acã. Um homem pode contaminar uma comunidade tanto para o bem como para o mal. Paulo dá a essa ideia um cuidadoso desenvolvimento em sua carta aos coríntios. Ele conclui: 'De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele' (1 Co 1 2.26).

A vida de Acã também nos ensina que o pecado nunca está oculto aos olhos de Deus. O Senhor sabe o que os olhos veem, o que o coração deseja e o que os dedos manipulam. Ele também sabe dos inúteis esforços do homem de tentar enganá-lo. Mais cedo ou mais tarde, um ser humano deverá encarar seus atos e prestar contas de todos eles.

Outra verdade importante é encontrada no fato de que, assim que o pecado foi expiado, a porta da esperança se abriu. O povo sentiu mais uma vez a segurança de que poderia avançar. Esta ver­dade continua em ação. Aquele que aceita o sacrifício de Cristo pelo pecado imediatamente olha para a vida com esperança e segurança" Comentário Bíblico Beacon.

Quando o pecado é revelado e a liderança não faz uso da disciplina, segundo os padrões bíblicos, toda a igreja sofre debaixo da maldição do pecado. Leia com atenção e temor o capítulo sete de Josué. Tomemos cuidado, pois Deus não mudou. Ele continua o mesmo. Aliás, vejamos esta advertência de Pedro: "Porque já é tempo que comece o julgamen­to pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?" (1 Pe 4.1 7). Deus julga e condena o pe­cado e o remove do meio dos santos.

CONCLUSÃO

"O tolo despreza a correção de seu pai, mas o que observa a repreensão prudentemente se haverá" (Pv 15.5). A disciplina é uma prova de amor. Deus requer que seus filhos andem de conformida­de com a sua Palavra. Se errarmos, Ele certamente disciplinar-nos-á. No entanto, cuidado: Deus não se deixa escarnecer.

Ananias e Safira, simulando uma justiça que não possuíam, mentiram para o próprio Deus. Por isso foram mortalmente pu­nidos. Andemos, pois, no temor do Senhor.

"O delito de Ananias não foi reter parte do preço do terreno; poderia ter ficado com tudo se qui­sesse; seu delito foi tentar impor-se sobre os apóstolos com uma menti­ra espantosa unida à cobiça, com o desejo de ser visto. Se pensarmos que podemos enganar a Deus, fatal­mente enganaremos a nossa própria alma. Como é triste ver as relações que deveriam estimular-se mutua­mente às boas obras, endurecerem-se mutuamente no que é mau! Este castigo, na realidade foi uma misericórdia para muitas pessoas. Ele faria as pessoas examinarem a si mesmas rigorosamente, com oração e terror da hipocrisia, cobiça e vanglória, e a continuarem agindo assim. Impediria o aumento dos falsos crentes. Aprendamos com isto quão odiosa a falsidade é para o Deus da verdade, e não somente evitar a mentira direta, mas todas as vantagens obtidas com o uso de expressões duvidosas e de signifi­cado duplo em nosso falar".

Bibliografia Claudionor de Andrade

Sinais e Maravilhas na Igreja

Por: Pr. Altair Germano

Os milagres, sinais e maravilhas registrados na Bíblia são reais ou não passam de narrativas mitológicas?

Os milagres, sinais e maravilhas são realidades para serem vivenciadas pela Igreja em pleno século XXI?

Para muitos estas perguntas possuem respostas óbvias, enquanto que para outros são questionáveis.

A DEFINIÇÃO DE “MILAGRE”

É importante iniciar observando algumas definições e considerações clássicas acerca de “milagre”.

Geisler (2010, p. 40) afirma que na perspectiva histórica os teólogos têm definido os milagres de duas maneiras distintas, em sentido rígido ou moderado. Os moderados seguem a linha de Agostinho (354-430), que descreve o milagre como sendo “um prodígio [que] não é contrário à natureza, mas contrário ao nosso conhecimento da natureza” (Cidade de Deus, 21.8). O sentido rígido é creditado àqueles que seguem a linha de Tomás de Aquino, que compreende o milagre como um evento que vai para além dos poderes da natureza e que somente poderia ser produzido por uma força sobrenatural - Deus. (Summa Contra Getiles, Livro 3).

Champlin (2001, p. 266), ao comentar sobre a perspectiva de Agostinho sobre os milagres escreve:

Agostinho argumentava fortemente em prol da naturalidade dos milagres, do ponto de vista de Deus, apesar de parecerem sobrenaturais ou contrários à natureza, do nosso ponto de vista. Deus parece contradizer ou quebrar alguma lei natural, mas ele simplesmente aplica alguma lei superior, anulando outra lei, inferior. Há uma suprema lei na natureza, dentro da qual todos os milagres podem ser ajustados. O argumento filosófico-teológico dessa abordagem é que Deus, que estabeleceu as leis naturais, jamais agiria contrariamente a Si mesmo, quebrando, ocasionalmente, e por motivos especiais, essa lei (Contra Faustum, 26.3).

Referindo-se indiretamente ao pensamento de Tomás de Aquino, Champlin comenta que outros teólogos não percebem problemas no fato de que Deus pode quebrar leis naturais em suas intervenções. Para Champlin esta discussão é fútil, visto que a natureza fragmentar de nosso conhecimento e da ciência não pode chegar a uma definição decente (plena?) do natural, e muito menos do sobrenatural.

Para Strong (2002, p. 185-186):

Milagre é um evento na natureza em si mesmo tão extraordinário e tão coincidente com a profecia ou a determinação de um mestre religioso ou um líder que garante plenamente a convicção da parte dos que o testemunham que Deus o operou com desígnio de certificar que o mestre ou líder foi comissionado por ele.

Em sua Teologia Sistemática, Augustus H. Strong aborda ainda questões relacionadas com a possibilidade do milagre, a probabilidade do milagre, o testemunho necessário para provar um milagre, e força evidencial dos milagres. Recomendo a aquisição e a leitura da obra de Strong.

TERMOS BÍBLICOS PARA MILAGRES

Para vislumbrarmos um quadro completo dos milagres bíblicos, é necessário conhecermos as peculiaridades dos termos empregados para descrever um “milagre” (Geisler (Idem, p. 40-43):

- oth: termo hebraico para “sinal”, usado em (Êx 3.12; 4.1-9, 30, 31; Nm 14.11, 22; Dt 6.22; 26.8; Js 24.17; Sl 105.27; Jr 32.20-21).

- mopheth: termo hebraico para “maravilhas”, para descrever os mesmos eventos que são, em algumas partes das Escrituras chamados de “sinais” (Êx 7.9; Dt 29.5; Sl 78.43; 1 Rs 13.3, 5).

- teras: termo grego para “maravilha”, utilizado dezesseis vezes no NT, geralmente se referindo a milagres (Mt 24.24; Mc 13.22; At 2.19; Jo 4.48; At 2.22, 43; 4.30; 14.3; 15.12; Rm 15.195.12; Hb 2.3, 4). A palavra transmite a ideia de algo que é tremendo e estonteante.

- dunamis: termo grego para “poder”, utilizado para se referir aos milagres de Cristo (Mt 15.38), aos dons espirituais (1 Co 12.10), ao derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, e ao “poder” do evangelho para salvar os pecadores (Rm 1.16). A ênfase da palavra está no aspecto de energização divina que envolve um evento miraculoso.

Segundo Geisler, cada uma das três palavras que se referem a eventos sobrenaturais (sinal, maravilha e poder) envolve um aspecto do milagre: “Um evento incomum (maravilha) que transmite e confirma uma mensagem incomum (sinal) por intermédio de uma habilidade incomum (poder).

O PRÓPOSITO DOS MILAGRES

McDowell e Stewart (1992, p. 93-94) declaram que a história de milagres na Bíblia são sempre para um propósito bem definido e nunca para ostentação. Neste sentido citam a multiplicação dos pães para saciar os famintos (Lc 9.12-27) e a transformação da água em vinho (Jo 2.1-11) na festa de casamento.

Champlin (idem, p. 269) afirma que no relato bíblico da realização de milagres algum problema foi resolvido, algum ato de misericórdia foi estendido, algum ensino foi enfatizado, alguma coisa útil foi realizada. Não acontecia a vã exibição de poder.

Geisler (idem, p. 44) resume os propósitos dos milagres em três:

(1) glorificar a natureza de Deus (Jo 2.11; 11.40);
(2) confirmar as credenciais de certas pessoas na posição de porta-vozes de Deus (At 2.22; Hb 2.3, 4;
(3) propiciar evidências para que haja fé em Deus (Jo 6.2, 14; 20.30, 31).

OBJEÇÕES AOS MILAGRES

Nem todos acreditam em milagres, ou em sua atualidade. MacDowell e Stewart (idem, p. 97) escrevem:

Afirma-se, muitas vezes, que as pessoas que viviam nos tempos bíblicos eram mais simples e supersticiosas que o homem moderno, e podiam ser enganadas para acreditar nas histórias milagrosas encontradas na Bíblia. Hoje declara-se que vivemos numa era científica e que superamos essas superstições, pois desenvolvemos a capacidade intelectual para ver esses milagres como mitos supersticiosos e não como fenômenos paranormais.

Em seu propósito de demitologizar a narrativa bíblica, o teólogo alemão Rudolf Bultmann (1999, p. 95) afirma:

A ideia de milagre como acontecimento miraculoso tornou-se impossível para nós hoje, porque entendemos o processo natural como processo que segue leis, concebendo, portanto, o milagre como ruptura do nexo baseado em leis do processo natural; esta ideia não é mais concebível para nós hoje.

Champlin (idem, p. 266-267) enumera algumas maneiras de tentar explicar os milagres, desfazendo a sua natureza sobrenatural. São Elas:

- Os milagres são excitações da imaginação pupular, podendo ser explicados naturalmente;
- Os milagres são meros comentários parabólicos, fazendo parte de alegorias;
- Os milagres são símbolos ou narrativas contadas para ensinar certas lições acerca de verdades espirituais;
- Os milagres são invenções fraudulentas dos escritores religiosos;
- Os milagres são explicações mitológicas, exagerando ocorrências reais;
- Os milagres são meras ilusões, assim como é a mágica;
- Os milagres são acontecimentos psíquicos, fruto do treinamento da mente (poder mental);
- Os milagres são ilusões mentais fruto da hipnose;

As argumentações contra os milagres que são encontradas nos filósofos, (Spnoza, Hume, etc.) geralmente se fundamentam em perspectivas naturalistas (a natureza como um sistema fechado), e na ideia panteísta (Deus é o universo) acerca de Deus.

OS FALSOS MILAGRES E OS “MILAGREIROS”

Conforme Strong (idem):

[…] só um ato operado por Deus pode, com propriedade, ser chamado de milagre, segue-se que os eventos surpreendentes operados pelos espíritos maus ou por homens através do uso de agentes além do nosso conhecimento não têm direito a esta designação. As Escrituras reconhecem a sua existência, mas chamam de “prodígios de mentira” (2 Ts 2.9).

A possibilidade e a realidade destas ocorrências sobrenaturais servem para mostrar a necessidade de um cuidadoso exame antes de aceitá-las como divinas:

Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis. (Dt 13.1-4)

Strong lista algumas coisas que podem ajudar na distinção entre o falso e o verdadeiro milagre. São elas:

- A conduta imoral ou a falsa doutrina que o acompanha;
- Por suas características interiores de inanidade (falta de conteúdo, futilidade) e extravagância, com no caso da liquefação do sangue de São Januário, ou nos milagres do Novo Testamento Apócrifo;
- Pela insuficiência de objetivos que se propõem a promover - como no caso de Apolônio de Tiana, ou dos milagres que se dizem acompanhar a publicação das doutrinas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal;
- Por sua falta de evidência substancial - como nos milagres medievais tão raramente atestados pelas testemunhas contemporâneas e desinteressadas;
- Pela negação ou subestima da prévia revelação de que Deus faz de si mesmo na natureza - mostrada pela negligência dos meios comuns como no caso da cura pela fé e da assim chamada Ciência Cristã.

Caminhando junto com os falso milagres estão os obreiros milagreiros, sensação do momento no meio evangélico brasileiro:

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” (Mt 7.21-23)

O fenômeno dos obreiros milagreiros possue algumas características próprias, que já extrapolaram os círculos neopentecostais, encontrando guarida nas denominações pentecostais clássicas. Dentre essas características podemos citar:

- A ênfase na glória do apóstolo ou profeta milagreiro, em vez da ênfase na glória de Deus;
- A ênfase no milagre, em vez da ênfase na pregação
- A criatividade dos milagreiros nas mais diversas maneiras e fórmulas de alcançar o milagre;
- O agendamento do milagre com culto, dia e hora marcada;
- O uso do milagre como meio de barganha (2 Rs 5.15-16), para a arrecadação de fundos, de grandes ofertas para o sustento de ministérios, programas de TV e impérios pessoais;

MacArthur (1992, p. 137), em seu livro “O Caos Carismático”, expressa bem a questão, quando afirma que:

O anseio das pessoas por fenômenos misteriosos e admiráveis está em um nível insuperável na história da igreja. Desejosa de testemunhar milagres, muitas pessoas parecem dispostas a crer que quase todas as coisas incomuns são maravilhas celestiais. Isso representa um tremendo perigo para a igreja, porque a Escritura nos adverte que falsos milagres - extremamente críveis - serão um dos principais instrumentos de Satanás nos tempos finais. Jesus disse: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.” (Mt 24.24-25). Certamente, à luz dessas palavras de nosso Senhor, um tipo de ceticismo sadio, por parte dos cristãos, é bem-vindo.

Mas, ao mesmo tempo, erra gravemente ao afirmar:

Estou convencido de que os milagres, sinais e maravilhas anunciados hoje no movimento carismático não tem qualquer relação com os milagres apostólicos. Estou persuadido, pela Escritura e pela História, de que nada semelhante ao dom de milagres do Novo Testamento (quanto a uma discussão sobre o dom de milagres, ver Capítulo 9) é realizado hoje. O Espírito Santo não tem dado a nenhum cristão de nossos dias dons miraculosos comparáveis aos que foram dados aos apóstolos. […] Ao contrário disso, a maioria dos milagres contemporâneos quase sempre é parcial, gradual ou temporário. Os únicos milagres “instantâneos” são curas que parecem envolver formas de males psicossomáticos. […] Muitos pentecostais e carismáticos falam da restauração do “poder do Espírito Santo segundo o Novo Testamento” por meio do seu movimento. […] Existe a necessidade permanente de que milagres confirmem a revelação divina? Pode alguém, com fé, reivindicar um “milagre” como muitos ensinam? Deus realiza milagres sob demanda? E os fenômenos exaltados hoje como sinais, maravilhas e curas têm alguma semelhança com os milagres realizados por Cristo e pelos apóstolos? A resposta a todas essas perguntas é não. […] Línguas, curas e milagres serviram como sinais para autenticar uma época da nova revelação. Logo que acabou essa época, cessaram os sinais. (idem, p. 141, 145, 152 e 153).

Concordo com MacArthur no sentido de haver os mais diversos abusos, absurdos, falsificações e enganos em torno de milagres na atualidade, inclusive no pentecostalismo clássico. Mas, o seu generalismo pode ser classificado, no mínimo, de extremado. ele chega a afirmar (idem, p. 153) que no Novo Testamento não existe nenhuma ordem para procurarmos milagres. A razão é óbvia, pois os milagres “naturalmente” seguem e acompanham os pregadores da palavra, na vida dos que crêem:

E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. (Mc 16.15-17)

Teria, como afirma Mac Arthur, a época das línguas, curas e milagres acabada? Onde no texto de Marcos isso é evidente? O que falar então do texto abaixo?

Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.(grifo nosso) (At 2.38-39)

É em razão de declarações e perspectivas como estas de MacArthur, que o tema “milagres” precisa ser estudado.

Fico a pensar, que se um cristão na atualidade se aproximasse de MacArthur para testemunhar de um milagre recebido, mesmo diante das evidências irrefutáveis, MacArthur teria que recorrer ao pensamento e argumento de Hume (com as devidas proporções), e dizer que apesar das claras e reais evidências, não se deve acreditar em milagres, simplesmente pelo fato de teologicamente serem inaceitáveis para os dias atuais (com base em sua perspectiva reformada e cessacionista).

Os milagres são uma realidade bíblica e atual.

BIBLIOGRAFIA

BULTMANN, Rudolf. Demitologização: coletâneas e ensaios. São Leopoldo: Sinodal, 1999.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 5. ed. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 4

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. v. 1

MaCARTHUR JR. John. O Caos Carismático. S. José dos Campos: Fiel, 1992.

McDOWELL, Josh; STEWART, Don. Respostas àquelas perguntas: o que os céticos perguntam sobre a fé cristã. 2. ed. São Paulo: Candeia, 1992.

STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática. São Paulo: Teológica, 2002. v. 1

Publicado no Blog do Pr. Altair Germano