“E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas“(Atos 10:34)
Vejamos com mais detalhe a conversão de Cornélio e sua família.Cornélio era um oficial militar romano. Como centurião, comandava cerca de cem homens e fazia parte da coorte chamada Italiana. O que mais chama a atenção, porém, não é sua proeminência militar, e, sim, sua piedade. Era um homem piedoso e temente a Deus que fazia muitas esmolas ao povo judeu necessitado e orava com freqüência (Atos 10:1,2).Um dia, por volta das quinze horas, Cornélio teve uma visão clara na qual um anjo de Deus se aproximava dele e chamou-o pelo nome. Uma vez que era gentio, o centurião provavelmente não tinha conhecimento do ministério dos anjos como um judeu teria, de modo que se encheu de temor e pensou que o anjo era o Senhor. O anjo o tranquilizou, falou do reconhecimento de Deus por suas orações e esmolas e disse-lhe que enviasse mensageiros a Jope(que distava de Cesaréia cerca de 50 quilômetros) e mandasse chamar Pedro que estava hospedado com um homem chamado Simão, curtidor, à beira mar. Cornélio obedeceu sem questionar e enviou dois dos seus servos domésticos e dos seus assistentes, um soldado que também era temente a Deus(cf Atos 10:3-8).No dia seguinte, por volta do meio-dia, subiu Pedro ao terraço da casa de Simão em Jope a fim de orar. O apostolo sentiu fome e quis comer, mas a refeição ainda estaca sendo preparada no piso inferior da casa. Sem dúvida, sua fome foi um prelúdio adequado para o que sucederia. Sobreveio-lhe um êxtase, e ele viu o céu aberto e descendo um lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas. O lençol continha toda sorte de quadrúpedes, répteis e aves, limpos e imundos. Uma voz do céu disse ao apóstolo faminto: “Levanta-te […] mata e come”. Lembrando-se da lei de Moisés que proibia o judeu de ingerir qualquer criatura imunda, Pedro proferiu as famosas palavras de recusa: “De modo nenhum, Senhor!”(cf Atos 10:9-14).Quando Pedro explicou seu histórico de observância fiel às leis alimentares, a voz do céu disse: “Ao que Deus purificou não considere comum”. Esse diálogo se repetiu três vezes, e, em seguida, o lençol foi recolhido ao céu(cf Atos 10:15,16).Evidentemente, o significado da visão ia além da questão de ingerir alimentos limpos ou imundos. Com o nascimento da fé cristã, as leis alimentares haviam sido revogadas, mas a tônica da visão era outra: Deus estava prestes a abrir as portas da fé para os gentios. Pedro, como judeu, ao longo de toda a sua vida havia considerado os gentios impuros, estrangeiros, forasteiros, distantes e ímpios. Agora, Deus faria algo novo. Os gentios(representados pelos animais imundos) receberiam o Espírito Santo da mesma forma que os judeus(animais limpos) já o haviam recebido. Distinções nacionais e religiosas seriam extintas e todos aqueles que cressem no Senhor Jesus estariam, em pé de igualdade dentro da comunhão cristã.Enquanto Pedro meditava sobre a visão, os servos de Cornélio chegaram à porta e perguntaram pelo apóstolo. Ao descobrir o propósito da visita dos homens, Pedro convidou-os a entrar e hospedou-os até o dia seguinte. Os servos demonstraram grande respeito por seu senhor, referindo-se a ele como homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica(cf Atos 10:17-23).No dia seguinte, Pedro partiu para Cesaréia com três servos de Cornélio e alguns irmãos dos que habitavam em Jope. Ao que parece, o grupo viajou o dia todo, pois só no dia imediato chegou a Cesaréia.Em preparação para a chegada do apóstolo, Cornélio havia reunido seus parentes e amigos íntimos. Quando Pedro chegou, Cornélio prostrou-se aos pés dele em sinal de reverencia. O apóstolo recusou essa adoração e disse que também era apenas homem. Seria bom os “sucessores” autodesignados de Pedro imitarem sua humildade e proibirem as pessoas de se prostrarem diante deles!Ao encontrar toda aquela gente reunida na casa, Pedro explicou que os judeus não costumavam entrar na casa de gentios, mas Deus havia lhe revelado que não devia mais pensar nos gentios como párias. Em seguida, perguntou por que razão haviam mandado chama-lo.Cornélio descreveu prontamente a visão que havia tido quatro dias antes, na qual um anjo lhe assegurou que sua oração fora ouvida e o instruiu a mandar chamar Pedro. Esse homem gentio demonstra anseio louvável pela palavra de Deus: “Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor”(cf Atos 10:30-33). O espírito aberto e receptivo ao ensino é sempre recompensado com instrução divina.Antes de iniciar sua mensagem, Pedro reconheceu honestamente que, até então, a seu ver, o favor de Deus estava limitado à nação de Israel. Naquele momento, porém, percebeu que “Deus não faz acepção de pessoas” em razão de nacionalidade, mas busca quem tem o coração honesto e contrito, seja judeu, seja gentio. Em qualquer nação, aquele que teme e faz o que é justo lhe é aceitável (cf Atos 10:34-35). Entretanto, mesmo que uma pessoa tema a Deus e realize obras de justiça, não será salva em razão disso. A salvação se dá somente pela fé no Senhor Jesus Cristo.Atos 10:44-48 diz que Pedro ainda estava pregando quando caiu o Espírito Santo sobre os gentios. Todos falaram em línguas, louvando a Deus. Esse dom foi um sinal de que Cornélio e sua casa haviam, de fato, recebido o Espírito Santo. Os visitantes judeus vindos de Jope admiraram-se ao ver que gentios podiam receber o Espírito Santo sem se tornar prosélitos do judaísmo. Uma vez que Pedro não se encontrava mais tão preso aos seus preconceitos judaicos, percebeu, no mesmo instante, que Deus não fazia distinção entre judeus e gentios e, assim, propôs que os membros da família de Cornélio fossem batizados.Esses gentios haviam sido salvos da mesma forma que os judeus, a saber, pela fé. Não há nenhuma indicação da necessidade de guardar a lei, ser circuncidado ou de seguir qualquer outra prática ou ritual.Ao chegar em Jerusalém, Pedro teve de se justificar diante da igreja por ter batizado os gentios. E seu depoimento só foi aceito porque o apóstolo disse que o Espírito Santo veio sobre os gentios e os encheu, como encheu os crentes israelitas no Pentecostes. Não fosse a atuação do Espírito Santo, que interveio de forma sobrenatural, provavelmente os judeus demorariam mais a entender a ordem do Senhor, de pregar o Evangelho por todo o mundo.
1. Aspectos da obra de Jesus como “a nossa paz“. Os aspectos da obra de Jesus Cristo como a nossa paz encontram-se pormenorizados em Ef 2:14-18.a) A obra da união: “de ambos fez um” - a saber, de crentes judeus e gentios“. Agora eles não são mais judeus ou gentios, mas cristãos. Rigorosamente falando, não é certo referir-se a eles como cristãos judeus ou cristãos gentios. Todas as distinções ligadas à carne, como, por exemplo, a nacionalidade, foram cravadas na cruz.b) A obra de demolição: “e, derribando a parede de separação que estava no meio“. Evidentemente não era uma parede, mas uma barreira invisível criada pela lei de Moises, com mandamentos na forma de ordenanças. Isso separou o povo de Israel de todas as demais nações. Para ilustrar esse fato, muitos usam como exemplo a parede que existia no templo judaico e que restringia o acesso de quem não fosse judeu, limitando a permanência dessas pessoas ao átrio dos gentios. Nessa parede havia um letreiro que dizia: “Ninguém das demais nações ouse ultrapassar a barreira ao redor do Lugar Santo. Quem o fizer será responsável pela morte que a seguir lhe será aplicada”.c) O terceiro aspecto da obra de Cristo foi a abolição da “inimizade” que existia entre os judeus e os gentios e também entre o homem e Deus: “desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”(Ef 2:15). Paulo identifica a causa da “inimizade”, a saber, a “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”. A Lei de Moisés era um simples código legal. Porém consistia de dogmas ou decretos que cobriam quase todas as áreas da vida. A lei em si era santa, justa e boa(Rm 7:12), porém a natureza pecaminosa se serviu dela para expressar revolta e ódio. Como a lei colocava Israel num pedestal, dignificando-o como povo escolhido de Deus, muitos dentre os judeus se tornaram arrogantes e desprezaram os gentios. Os gentios por sua vez responderam com profunda hostilidade, hoje conhecida na forma de anti-semitismo. De que modo Cristo removeu a lei como causa de inimizade? Em primeiro lugar ele morreu para sofrer a penalidade da lei transgredida. Assim, Ele satisfez perfeitamente as justas exigências de Deus. Agora a lei nada tem para apontar contra os que estão “em Cristo”. A penalidade foi paga completamente em favor deles. Os crentes não estão mais sob a lei, mas debaixo da graça (Rm 6:14). Isso não significa que podem viver a seu bel-prazer, mas que servem a lei de Cristo e devem fazer o que lhe agrada.2. O alcance da Obra de Cristo: a criação de “um novo homem” - a Igreja (Ef 2:15). Como resultado da abolição da hostilidade levantada pela Lei de Moisés, o Senhor pôde iniciar uma nova criação. “Dos dois”, ou seja, dos judeus e gentios crentes, criou em si mesmo “um novo homem”: a Igreja.Através da união com Ele, os antigos combatentes são unidos uns aos outros numa nova comunhão. A Igreja é nova no sentido de que é uma espécie de organismo que nunca existiu antes. É importante entender isso. A Igreja do Novo Testamento não é a continuação do povo de Israel do Antigo Testamento. É distinta de tudo o que a precedeu ou que ainda vai surgir. Isso é evidente pelo seguinte:a) É novidade os gentios desfrutarem dos mesmos direitos e privilégios que os judeus.b) É novidade tanto os judeus quanto os gentios perderem a sua identidade nacional ao se tornarem cristãos.c) É novidade os judeus e gentios serem membros unidos do Corpo de Cristo.d) É novidade um judeu ter a esperança de reinar com Cristo em vez de ser um simples súdito de Cristo.e) É novidade um judeu não estar sob a lei.
É evidente que a igreja é uma nova criação com vocação e destino distintos, ocupando um lugar excepcional nos propósitos de Deus. Porém, o alcance da obra de Cristo não termina aí. Ele também fez a paz entre judeu e o gentio - “fazendo a paz”(Ef 2:15 , final). Obteve isso removendo a causa da hostilidade, dando uma nova natureza aos crentes e criando uma nova união. A cruz é a resposta de Deus para a discriminação racial, a segregação, o anti-semitismo, a intolerância e todas as demais formas de divisão entre os homens.3. Tendo reconciliado o judeu com o gentio, Cristo ainda reconciliou ambos com Deus - “e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo“(Ef 2:16). Embora fossem amargamente opostos entre si, os judeus e os gentios estavam unidos num aspecto: estavam unidos na sua hostilidade contra Deus. A causa dessa hostilidade era o pecado. Por sua morte na cruz, o Senhor Jesus removeu a inimizade e assim anulou sua causa. Os que o recebem são considerados justos, perdoados, redimidos, resgatados e libertos do poder do pecado. A inimizade desapareceu. Agora têm paz com Deus. O Senhor Jesus uniu em um só corpo os judeus e os gentios crentes, formando a Igreja e apresentando esse corpo a Deus, eliminando então todos os vestígios de antagonismo.Deus nunca precisou ser reconciliado conosco, pois nunca nos odiou. Nós, porém, precisávamos ser reconciliados com Ele. A obra do nosso Senhor sobre a cruz criou uma base justa sobre a qual podemos ser apresentados a Deus como amigos e não como inimigos.
William Macdonald - Comentário Bíblico popular (Novo Testamento)
[1]John Stott - A mensagem de ATOS (Até os confins da Terra)
Bíblia de Estudo Pentecostal.Revista Ensinador Cristão - nº 45.